Acabei de chegar de um café - local público, numa cidade micro habitada. Na mesa ao lado um homem, com muitos celulares e rádios falava alto tanto nos aparelhos como com seu "interlocutor":
- O mundo está em crise!
- A bolsa hoje caiu 17%...
- Os Estados Unidos já dobraram os joelhos.
- É o fim.
- Crise mundial. (E listou pelo menos uns oito países fora toda União Européia!)
- E o Povo Brasileiro só querendo saber de "Casas Bahia" e "Pernambucanas"...
- Coisa ridícula... esse povo que não lê! Povo medíocre!
- E você sabe do absurdo que é ser professor nesse país?
- Então... um professor ganha bruto (falou aos berros!)
um mil e cem reais...
(Nessa hora tive vontade rir... Fui por trinta e dois anos professora do poder público, me aposentei por invalidez!!! Simplesmente desgastou tudo... e ele acertou em cheio no valor da minha aposentadoria!)
- Ser professor é um inferno... um sacerdócio...
(Agora ele foi no mínimo interessante!!!!)
E continuou falando sem parar! Alto, gesticulando, levantou-se várias vezes da cadeira que era pequena prá todo aquele saber...
Ele, que parecia nem pensar em ser professor, estava ali, dando uma aula pública sobre alguns temas relevantes:
- atualidade, bem do tipo "eu li as manchetes do jornal hoje",
- mau humor,
- vontade de Poder,
- vontade de Ser, quem sabe Poder e Ser tudo que nunca conseguiu...
Seu interlocutor, coitado, era um rapaz a quem ele imponentemente dirigiu a seguinte pergunta:
- E você, quantos anos tem?
O rapaz tímido, respondeu:
- Trinta e cinco anos. E permaneceu calado, muito sensatamente, como esteve desde o início!!!
E o empolado humor do cidadão de meia idade falou ainda mais alto:
- Então... você tem a idade do meu filho mais velho!
(Sim...
e daí????!!!!!
Não que eu quisesse ouvir aquele discurso!
Juro que não queria, mas era simplesmente impossível!
A mesa dele estava praticamente colada à minha e meu delicioso café com leite de fim de tarde, tornou-se um flagelo mundial!)
O homem continou:
- Os tesouros do mundo se ruíram. Acabou. É o fim!
- Você sabe o Passivo? Então! Agora eles vão mexer com o Ativo também!
- E esse Povo Ridículo sem fazer nada...
Foi aí que olhei para o lado contrário ao que ele estava e tive a grata visão de me deparar com um vaso pequeno, terra seca, exturicada, posto no extremo do lugar ao sol, numa passarela por onde passam todos, vindos de todos os lugares e indo sabe-se Deus para onde, sujeito a poeira, pisadas, calor, frio, cuspes, chicletes mascados e velhos, guimbas de chigarro...
E no vaso um exuberante cactos com uma
Força
e uma
Vitalidade
invejáveis!
Eram os Opostos que se atraiam no meu pensamento vigilante:
o duvidoso discurso do Poder de quem supostamente sabe
e
a certeza de quem Simplesmente É diante do que lhe foi designado Ser... seja Lá por quem tenha sido...
Não sei como o Povo Brasileiro é!
Também não sei das intimidades do cactos.
Mas foi o cactos que roubou minha Alma e me trouxe feliz de volta prá casa, certa de que, se não sei tudo o que se passa no mundo, pelo menos tento saber um pouco melhor de mim mesma a cada dia...
Quem sabe assim a Crise Mundial não fica milionésimamente menor!!!

Maravilhoso!!!
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